Com o fluxo de caixa prejudicado, empresários que estão à frente de micro e pequenas empresas evitam empréstimos e, quando acionam os bancos, apenas uma minoria consegue retorno.
A paralisação das atividades econômicas atingiu em cheio as micro e pequenas empresas. Impedidas de operar por conta das medidas de combate ao avanço da Covid-19, elas foram afetadas no fator mais decisivo para a sustentabilidade dos negócios: a geração e a previsão de receitas. É aí que surge a dúvida entre recorrer ou não a linhas de crédito.
Segundo a terceira edição do estudo O impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios, realizado pela FGV Projetos, em parceria com o Sebrae, apenas 38% dos empresários responsáveis por essas empresas buscaram empréstimos e, destes, somente 14% conseguiram.
Tanto o alto percentual de empreendedores que não recorreram ao financiamento quanto a baixa proporção dos que tiveram o pedido atendido refletem o maior problema enfrentado atualmente: a falta de previsibilidade. De um lado, está o empresário, inseguro quanto à capacidade de honrar a dívida. Do outro, a instituição financeira, limitando a liberação dos recursos pelo mesmo motivo.
As micro e pequenas empresas não estão buscando crédito porque, antes da pandemia, o que elas faziam era algum tipo de desconto de recebíveis para o giro e investimento pontual. Esses empresários tinham noção do que o giro proporcionava, faziam a conta e só então recorriam ao crédito. Com a pandemia, o empresário passou a não ter receita e a não saber se terá venda suficiente para pagar as dívidas.
O acesso a empréstimos é maior nas cooperativas de crédito do que nos bancos, conforme aponta o próprio levantamento da FGV Projetos que, por ser uma análise quantitativa, e não qualitativa, não identifica as razões para o fato. No entanto, em geral, as cooperativas estão mais próximas do cooperado, são mais ágeis na análise e oferecem linhas com custo menor, pois têm processos menos burocráticos do que os grandes bancos.
Planejamento e reestruturação
Os bancos públicos, privados e entidades de incentivo ao desenvolvimento vêm anunciando novas linhas de crédito, mas “apesar dos juros menores, dos longos períodos de carência e do pagamento facilitado, o acesso a essas linhas tem sido complicado.
Mesmo no caso das medidas adotadas pelo governo, o dinheiro não está chegando até as pequenas empresas: dos R$ 40 bilhões destinados ao Programa Emergencial de Suporte a Empregos, apenas R$ 1,6 bilhão foi liberado, segundo dados do Banco Central atualizados em 14 de maio.
Por isso, antes de procurar um financiamento, é importante que o empresário saiba com clareza se o valor obtido vai efetivamente ajudar o negócio ou apenas aumentar o endividamento. Com organização e planejamento, o próximo passo é buscar as melhores opções no mercado, providenciando a documentação necessária à obtenção dos valores, dentro das regras do sistema financeiro nacional.
Outras iniciativas que aumentam as chances de sucesso são detalhar como o dinheiro será aplicado no negócio e demonstrar que há capacidade de gerar caixa e quitar a dívida. Para isso, o empreendedor pode elaborar um plano, com prazos e metas, e apontar o destino do empréstimo. Essas medidas demonstram transparência e despertam a confiança do analista de crédito, durante a negociação.
Chamamos a atenção dos empresários para os bancos públicos, que estão mais alinhados com as políticas governamentais, ampliando as chances de liberação de crédito. Como muitas empresas já estão retomando as atividades, independentemente de estarem endividadas ou não, é preciso otimizar o uso dos recursos, buscando reduzir despesas e aumentar receitas. Revisar e renegociar contratos com fornecedores e buscar novos parceiros no mercado são atitudes que também podem ajudar a equilibrar as finanças.